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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012





As meninas 
Lygia Fagundes Telles


Li por causa do vestibular que pedia literatura contemporânea, e o que seria uma leitura obrigatória se tornou algo prazeroso e divertido. Li somente este livro da autora, mais pretendo ler " Ciranda de pedra" pois ouvi ótimas críticas á respeito.

O livro é confuso. Muito. Mas porque a cabeça das personagens É confusa! A autora faz a descrição de suas mentes, mais até do que da época em que vivem, de uma forma muito boa. 
No começo achei que mergulhar na cabeça de Ana Clara, a viciada, era o mais desconfortável para mim, várias indagações dela eram semelhantes às minhas, mas mais para o fim me vi mais em Lorena, a filosófica, a filha de família rica e problemática, lutando para se manter sã dentro de sua “bolha de cristal”...
“Ana Clara fazendo amor. Lião fazendo comício. Mãezinha fazendo análise. As freirinhas fazendo doce (...). Faço filosofia. Ser ou estar. Não, não é ser ou não ser, essa já existe, não confundir com a minha que acabei de inventar agora. Originalíssima. Se eu sou, não estou porque para que eu seja é preciso que eu não esteja. Mas não esteja onde? Muito boa a pergunta, não esteja onde. Fora de mim, é lógico. Para que eu seja assim inteira (essencial e essência) é preciso que não esteja em outro lugar senão em mim. (...). Ora, se sacrifico o ser para apenas estar, acabo me desintegrando (essencial e essência) até a pulverização total. (...) Acho que eu seria mais útil se estudasse medicina (...). Uma psiquiatra maravilhosa. O chato é que quando leio um livro sobre doenças mentais, descubro em mim os sintomas de quase todas, uma psiquiatra por dentro demais da loucura.” 
A que menos dei atenção foi Lia, a revolucionária, devido ao lado mais madura e ao mesmo tempo inconsequente.

Tem livros que são desconfortáveis de ler e este é mais um que o desafio me fez ir em frente no lugar de fechar e pensar: “chega, já deu!”, e isso geralmente só acontece quando os personagens tem uma carga emocional muito pesada e que me permite compará-los com a minha própria, quem não acha isso desconfortável?! 
Para mim essa parte psicológica é pior do que as descrições de tortura física que a autora faz. Mais, levando em consideração a história achei o enredo em si muito bom, mais o final eu não gostei, achei que ficou meio pendente, como se faltasse algo ali, ou talvez eu não tenha percebido que a grandeza da autora está realmente nisso, em mostrar a realidade das coisas ao invés de um simples "felizes para sempre".



Sinopse:
Num pensionato de freiras paulistano, em 1973, três jovens universitárias começam sua vida adulta de maneiras bem diversas. A rica Lorena, filha de família burguesa, nutre veleidades artísticas e literárias. Namora um homem casado, mas permanece virgem. A drogada Ana Clara, linda como uma modelo, divide-se entre o noivo rico e o amante traficante. Lia, por fim, milita num grupo da esquerda armada e sofre pelo namorado preso.
As meninas colhe essas três criaturas em pleno movimento, num momento de impasse em suas vidas. Transitando com notável desenvoltura da primeira pessoa narrativa para a terceira, assumindo ora o ponto de vista de uma ora de outra das protagonistas, Lygia Fagundes Telles constrói um romance pulsante e polifônico, que capta como poucos o espírito daquela época conturbada e de vertiginosas transformações, sobretudo comportamentais.
Obra de grande coragem na época de seu lançamento (1973), por descrever uma sessão de tortura numa época em que o assunto era rigorosamente proibido, As meninas acabou por se tornar, ao longo do tempo, um dos livros mais aplaudidos pela crítica e também um dos mais populares entre os leitores da autora.

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